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  Espontaneidade               Quem é que matou a espontaneidade? Provavelmente foram as tecnologias e uma outra coisa que tem crescido de uma maneira ainda mais assustadora do que as tecnologias.             Sim: o que é que as sociedades actuais têm vindo a produzir a um ritmo mais alucinado do que vídeos idiotas no YouTube ou canções intragáveis de pop-lixo ? Celebridades instantâneas? Talvez, mas eu queria chamar agora a atenção para a proliferação diabólica das leis. Isso mesmo. Leis, regras e regrinhas.             Acredito que se conseguíssemos pôr algum travão a estas duas coisas, leis e tecnologias, teríamos pelo menos metade dos nossos problemas resolvidos. Depois da pandemia, sobretudo, não há como sair a passear, apanhar um pouco de sol, sem nos afligirmos logo com a possibilidade de uma brigada da GNR, com cães, ASAE e a avó Gertrudes, nos cair em cima por andarmos a apanhar sol a mais – ou a menos, que também há de certeza leis para isso.             A única esp
  Conhecer o sogro   Cátia Pestana : Antes de tocares licenciosamente todo o meu corpo no primeiro dia de namoro, Zé Rocha, gostaria que viesses comigo falar com o meu pai. Por favor, eu sei que me amas... desde que me conheceste. Já lá vão duas horas! Zé Rocha: Há lá gajas?     Cátia Pestana: Depois levas, Zé. Repara, é só atravessar a rua...     Zé Rocha: Atravessamos na passadeira.   Cátia Pestana: És afeminado? Julgava-te rijo!   Zé Rocha: Há sempre mais gajas a atravessar na passadeira.   Cátia Pestana: Tens razão, amor.     Zé Rocha: O teu pai conhece gajas?     Cátia Pestana: Sim. Sempre me disse: «Se fosses rapaz, levava-te a conhecer as minhas... obras ». Mas ele queria dizer «gajas». Disse-me o meu irmão. Que é afeminado. É aqui. Entra, já deve estar a jantar.   Pai Pestana: Filha, traz-me os grelhados. Rapaz, para namorares com a minha filha tens de ir amanhã comigo ver como lidero a Construções Pestana Lda. Quero ver como te portas.  
  As classes dirigentes               O Robertinho, que andou nos barcos, sai-se por vezes com tiros de canhão verbais contra os políticos, ao mesmo tempo que lança descargas profundas de muco nasal para as mangas da jaqueta e para um lenço esburacado, que traz sempre consigo e trata por «Governo».             Aproveitando-se da situação, o Aurélio flecte ligeiramente os joelhos à frente, coloca a mão à ilharga e, com um gesto súbito, ameaça que o puxa pela pila. O Robertinho, atrapalhado, estala: «Porra, pára, parvo!»               Rimo-nos os três. E eu explico ao Robertinho que, nessa matéria, nunca estivemos tão bem.             Imediatamente o meu amigo diz: «Isto está é cada vez pior!» Mas quando falamos do comportamento das classes dirigentes, meu amigo, a verdade objectiva é que melhorámos muitíssimo. D. Teresa, por exemplo, «na corte da irmã, em Astorga, lançou a perturbação, fazendo crer a Afonso de Aragão que a mulher [irmã desta D. Teresa] tentara envenena-lo.» Põem